O que é EMDR, terapia feita por Miley Cyrus e príncipe Harry para curar traumas?

Entenda como funciona a Dessensibilização e Reprocessamento através do Movimento dos Olhos, nova abordagem terapêutica que promete ajudar a lidar com memórias dolorosas do passado
Por AMEL MUKHTAR, Vogue UK

O que é EMDR, terapia feita por Miley Cyrus e príncipe Harry para curar traumas? – Foto: Arquivo Vogue/ Lufré

Em sua primeira entrevista de capa para a Vogue britânica, Miley Cyrus creditou a nova terapia EMDR – abreviatura para Eye Movement Desensitization and Reprocessing, que em português significa Dessensibilização e Reprocessamento através do Movimento dos Olhos – por ajudá-la a se curar de traumas passados. “Nesta técnica, essencialmente, você exclui as sensações físicas associadas às memórias dolorosas. O EMDR realmente me ajudou”, falou ela.

Para entender melhor como essa prática funciona, pedimos à psicoterapeuta Sanja Oakley, que recentemente apareceu no documentário da Apple TV produzido por Oprah Winfrey e Príncipe HarryThe Me You Can’t See, para explicar essa abordagem psicoterapêutica, que tem crescido bastante nos últimos tempos.

O que é EMDR e como funciona?

Eye Movement Desensitization and Reprocessing (EMDR) é uma “psicoterapia poderosa e cientificamente comprovada para ajudar as pessoas a se recuperarem de eventos perturbadores que ocorreram em suas vidas”, explica Oakley. Às vezes, o cérebro fica sobrecarregado com tais incidentes e fica preso e incapaz de processar a experiência, então as emoções em torno da memória permanecem intensas.

A estimulação bilateral do EMDR ocorre através de movimentos oculares ou leves toques enquanto o paciente relata as experiências em questão. Ela aciona o sistema de processamento de informações do cérebro, que pode “ajudar a reprocessar – ou digerir – a memória para que ela não seja tão intensa”, explica ela. Remover a carga emocional significa que “as pessoas não são mais tão facilmente desestabilizadas por situações da vida que possam remeter ao trauma”.

A técnica pode acelerar o processo de superação, diz ela. “Há menos conversa envolvida do que as formas mais tradicionais de terapia. Na verdade, se você não quer falar sobre algo, existe uma maneira de processar isso com o EMDR.” No entanto, não se trata uma forma de hipnose, pois o cliente está totalmente presente na sessão o tempo todo.

Para quem o EMDR é adequado ou inadequado?

De acordo com Oakley, não é adequado para pessoas com psicose, embora atualmente existam testes de EMDR em andamento para pessoas com esse diagnóstico. “Há evidências crescentes de que está funcionando”, diz ela. Por outro lado, pode ser especialmente útil para “pessoas com lesões na cabeça e pessoas neurodiversas. É muito útil para quem lida com dissociação – mas é um processo muito mais lento.”

O EMDR ajuda na ansiedade?

A resposta curta é sim. A ansiedade aé um sintoma de muitas condições tratadas com sucesso pelo EMDR, como fobias, transtorno do pânico, ansiedade social, TEPT (Transtorno de Estresse Pós-traumático), complexos e trauma de apego. Ao direcionar as memórias às quais essas questões estão ligads, o EMDR pode “neutralizar esses eventos e reduzir a ansiedade”, diz Oakley.

O que é considerado trauma no contexto do EMDR?

“Falamos sobre traumas grandes e pequenos”, diz Oakley. Os primeiros universalmente considerados traumáticos – “desastre natural, estupro, ver um familiar assassinado” – enquanto traumas “pequenos” podem incluir “ser repreendido no trabalho, experiência crônica de invalidação, viver com um pai ou mãe deprimido, situações que nos oprimem e ficam presas no sistema de memória.”

Por que há uma controvérsia com o EMDR?

De acordo com Oakley, alguns profissionais de saúde mental ainda não entendem completamente o que faz a técnica funcionar. Mas ela acrescenta: “Sua eficácia no tratamento de traumas foi comprovada em mais de 40 ensaios clínicos e é recomendada por organizações líderes na discussão sobre saúde mental, como a Organização Mundial da Saúde”.

É possível praticar sozinho o EMDR?

Embora existam pesquisas limitadas para sugerir que o EMDR autoadministrado pode ser benéfico em alguns casos, porque é uma “ferramenta poderosa” de cura, a maioria dos médicos experientes não o recomenda. “O EMDR pode levá-lo a lugares que você não espera”, diz Oakley. Embora você possa começar em algo que considera relativamente insignificante, pode acabar em um evento opressor ou angustiante. “O papel do terapeuta é garantir um espaço seguro para processar o que quer que surja.”

Tabagismo: como a Suécia está prestes a se tornar o 1º país da Europa livre do cigarro

A abordagem sueca combina métodos de controle do tabagismo com estratégias de minimização de danos, como os cigarros eletrônicos

A taxa de fumantes na Suécia caiu de 15% para 5,6% da população em 15 anos. Foto: Freepik Freepik

A Suécia está a caminho de uma taxa de tabagismo abaixo de 5% e se aproxima do marco histórico de se tornar o primeiro país “livre do tabagismo” da Europa. De acordo com o relatório “A experiência sueca: um roteiro para uma sociedade sem fumo”, apresentado em 14 de março em um seminário internacional de pesquisa em Estocolmo, nenhum outro país da União Europeia está perto de replicar essa conquista e nenhum está efetivamente no caminho de alcançá-la conforme a meta estabelecida pela União Europeia para 2040.

Segundo os autores do relatório, a abordagem da Suécia, que combina métodos de controle do tabagismo com estratégias de minimização de danos, pode salvar 3,5 milhões de vidas na próxima década se outros países do bloco adotarem medidas semelhantes.

A inovadora estratégia do país para minimizar os efeitos prejudiciais do tabagismo combina as recomendações da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da OMS, incluindo a redução da oferta e demanda de tabaco, proibição do fumo em determinados locais, mas acrescenta um elemento importante: aceitar produtos sem fumaça como alternativas menos prejudiciais.

“Trata-se de combinar o controle do tabagismo com a minimização de danos”, explica o médico especializado em questões globais de saúde pública, Delon Human, um dos autores do relatório, em comunicado. “Não existem produtos de tabaco isentos de riscos, mas os cigarros eletrônicos, por exemplo, são 95% menos prejudiciais que os cigarros. É muito melhor para um fumante mudar de cigarros comuns para cigarros eletrônicos ou sachês de nicotina oral do que continuar fumando”, completa.

Benefícios de saúde pública

Os benefícios da estratégia sueca são visíveis: o país tem a menor taxa de doenças relacionadas ao tabaco na União Europeia e uma incidência de câncer 41% menor do que outros países europeus. O relatório também descreve como a porcentagem de fumantes na Suécia caiu de 15% para 5,6% da população em 15 anos, tornando-a o primeiro país com potencial de alcançar o status de livre do fumo 17 anos antes da meta estabelecida pela União Europeia.

“A Suécia tem uma estratégia para o tabaco muito bem-sucedida que precisa ser exportada”, diz o professor Karl Fagerström, também autor do relatório, em comunicado. “Seria um benefício enorme para o mundo se mais países fizessem como a Suécia, com incentivos para mudar de cigarros para alternativas menos prejudiciais”, acrescentou Fagerström.

Para a implementação da estratégia em outros países o relatório recomenda três ações principais:

  1. Reconhecer os produtos alternativos de entrega de nicotina, por exemplo cigarros eletrônicos, como sendo menos prejudiciais e que representam um risco significativamente menor do que fumar. Incentivar os fumantes a mudarem de cigarros convencionais para alternativas menos prejudiciais.
  2. Fornecer informações baseadas em fatos. Não se trata de um produto isento de riscos mas, por exemplo, os cigarros eletrônicos são 95% menos prejudiciais do que os cigarros convencionais. Obviamente, é melhor para um fumante mudar de cigarros convencionais para cigarros eletrônicos.
  3. Decisões de regulação que tornam as alternativas de menor risco mais acessíveis do que os cigarros convencionais.

França estuda licença médica para mulheres com menstruação dolorosa

Algumas empresas francesas já oferecem a possibilidade de tirar férias remuneradas durante os períodos menstruais
Por AFP

Mulher com cólica menstrual. Freepik – Foto: Reprodução/Freepik

A França tem vários projetos de lei em andamento para conceder licença médica a mulheres que sofrem de cólicas menstruais dolorosas, alguns meses depois que a Espanha adotou uma medida semelhante.

Algumas empresas francesas já oferecem a possibilidade de tirar férias remuneradas por períodos dolorosos, como a fabricante de móveis Louis Design.

E o município de Saint-Ouen, perto de Paris, ofereceu recentemente licença menstrual para suas funcionárias que sofrem de dores ou endometriose.

“Não devemos parar em iniciativas individuais, devemos generalizar este sistema para todas as mulheres que precisam dele”, disse à AFP o deputado ambientalista Sébastien Peytavie.

Junto com as deputadas de seu partido Marie-Charlotte Garin e Sandrine Rousseau, ela lançou uma consulta sobre o assunto com associações feministas e representantes do mundo médico e empresarial.

O objetivo é elaborar projeto de lei para criar licença menstrual indenizada, respeitando o sigilo médico. O texto está previsto para ser apresentado no dia 26 de maio.

Os parlamentares do Partido Socialista Mickaël Bouloux e Fatiha Keloua Hachi também realizaram audições com o mesmo objetivo.

“É o momento certo para fazer este projeto de lei na França, o interesse pelo assunto é muito forte, a população está pronta”, disse Fatiha Keloua Hachi à AFP, esperando apresentar o texto “o mais rápido possível”.

Segundo Aline Boeuf, doutoranda da Universidade de Genebra, essa questão ainda não é totalmente aceita no mundo do trabalho.

“As experiências das mulheres, como menstruação, gravidez ou menopausa, ainda não são levadas em consideração” pelos empresários, aponta. Segundo ela, além da folga menstrual, a vida das mulheres nas empresas pode melhorar com a colocação de lixeiras nos banheiros ou nas áreas de descanso.

A saúde da mulher é um “tabu”

No entanto, esta nova perda de postos de trabalho pode causar “desorganização” nas pequenas empresas, afirma a confederação francesa das PME (CPME).

Além disso, “nem todas as mulheres vivem este período da menstruação da mesma forma, e quem precisa pode pedir licença” a um médico, refere a vice-presidente da CPME, Stéphanie Pauzat.

A organização patronal Medef tem opinião semelhante e se opõe à licença menstrual porque “passaria a imagem de que as mulheres não podem ocupar as mesmas posições que os homens”.

As organizações feministas também temem uma possível reação e que a criação de uma licença menstrual leve à discriminação contra as mulheres na contratação.

“É uma boa ideia encontrar uma solução de emergência para mulheres com menstruação dolorosa ou endometriose, mas o problema deve ser abordado em sua totalidade”, diz Maud Leblon, diretora da associação Règles Elémentaires, que luta contra a precariedade menstrual e o tabu do assunto.

Especificamente, ele acredita que as patologias que afetam as mulheres, como a endometriose, devem ser “melhor compreendidas” e “melhor tratadas”.

Estima-se que cerca de uma em cada dez mulheres sofra desta doença ginecológica inflamatória crônica, que se pode manifestar através de períodos e dores intensas.

“A saúde das mulheres há muito é ignorada e considerada tabu”, disse a ministra francesa da Igualdade, Isabelle Rome, em comunicado enviado à AFP.

“É imperativo que nunca mais seja uma fonte de insegurança ou um obstáculo à conciliação da vida pessoal e profissional”, afirmou.

O governo francês lançou em janeiro uma estratégia nacional para combater a endometriose, que inclui um programa de pesquisa multimilionário.

Sobre as iniciativas das deputadas para a criação da licença menstrual, “vamos poder dar o nosso parecer” quando as propostas forem apresentadas “e tivermos visibilidade sobre o seu conteúdo”, disse a ministra.

Lily Allen: cantora é diagnosticada com TDAH aos 37 anos; entenda o quadro em adultos

Apesar do transtorno ser mais frequente em crianças e adolescentes, adultos também podem sofrer da condição com sintomas diferentes
Por O Globo — São Paulo

A cantora Lily Allen foi diagnosticada com TDAH

A cantora Lily Allen surpreendeu seus fãs ao revelar em entrevista ao The Times que foi diagnosticada recentemente, aos 37 anos, que foi diagnosticada com TDAHTranstorno do déficit de atenção com hiperatividade.

“Tive que me desconectar completamente das redes sociais porque, assim que olho para elas, posso passar horas do meu dia”, disse a artista.

O que é o TDAH? Quais são os sintomas?

O transtorno é considerado muito comum com mais de 2 milhões de casos por ano no Brasil, porém, ele é diagnosticado com mais frequência durante a infância até os 12 anos em média. Os sintomas nas crianças e adolescentes são diferentes nos adultos, entretanto, em qualquer faixa etária da vida, a condição sofre preconceito das demais pessoas que acreditam que os pacientes estão sendo “preguiçosos”.

Nas crianças e adolescentes por exemplo, os primeiros sintomas são vistos por meio da distração e hiperatividade, podendo avançar para problemas no rendimento escolar, notas, e em realizar determinadas tarefas, principalmente as mais burocráticas e repetitivas.

Quais são os sintomas do TDAH em adultos?

Quando adulto, as pessoas costumam não acompanhar os estudos da faculdademudam de emprego a todo momento por sentirem dificuldade de realizar atividades, como relatórios, entregar em datas demarcadas ou ainda que exigem foco e atenção.

É comum também adultos com déficit de atenção desenvolver transtornos de ansiedade, crises de pânico, irritabilidade, bipolaridade, transtornos de humor, além de depressão. Os especialistas recomendam que os pacientes diagnosticados com TDAH devem fazer o tratamento com psiquiatra ou neurologista, aliado a psicoterapia, para melhorar a qualidade de vida.

Tratamento do TDAH

Após o diagnóstico, o tratamento é feito à base de medicamentos, como antipsicóticos e psicoestimulantes, além de praticar atividades físicas. O paciente precisa colaborar traçando estratégias para melhorar a atenção, como lembrar onde deixa objetos e criar uma agenda com as tarefas por ordem de prioridade.

ChatGPT surge como candidato a ‘médico da família’ e pode transformar a saúde para sempre

Sistema movimenta hospitais, médicos e instituições ao apresentar potencial de uso com pacientes
Por Bruno Romani

Sistemas de IA já são usados para detectar câncer de pulmão, como no projeto entre o Hospital Sirio Libanes e a Siemens Healthnieers  Foto: Gabriela Biló/Estadão

Nos últimos 25 anos, a comunidade médica precisou aprender a conviver com o “Dr. Google”, graças ao papel que a ferramenta de buscas da gigante assumiu no esclarecimento de dúvidas de saúde. Agora, médicos, hospitais, pesquisadores e startups se preparam para a chegada de um substituto que promete ser ainda mais poderoso como “médico da família”: o ChatGPT, o chatbot turbinado por uma poderosa inteligência artificial (IA) da startup americana OpenAI.

O uso de IA na saúde não é exatamente uma novidade – áreas como radiologia, que trabalham com reconhecimento de imagens, já registraram avanços importantes. Hospitais e pesquisadores também pesquisam há anos maneiras de introduzir a tecnologia na rotina de médicos, pacientes e instituições – a ideia é que possam salvar vidas e trazer benefícios econômicos. Por exemplo: a ONG americana National Bureau of Economic Research estima que a ampla adoção de sistemas de IA pode fazer os EUA economizarem entre 5% e 10% do gasto anual em saúde – algo entre US$ 200 bilhões e US$ 360 bilhões.

Porém, o chatbot “esperto” da OpenAI jogou nova luz sobre a tecnologia, o que vem movimentando o mundo da saúde e forçando a comunidade médica a compreender o que fazer com a ferramenta. A julgar pelo interesse inicial, será muito difícil em um futuro próximo não frequentar um consultório que não tenha algum sistema do tipo.

Na segunda-feira 20, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) promoveu um simpósio sobre o ChatGPT, no qual especialistas de diferentes áreas da instituição apresentaram o potencial da ferramenta. A transmissão gratuita no YouTube chegou a comportar 1,5 mil espectadores simultâneos.

Entre as possíveis aplicações, parece haver consenso de que esses sistemas serão fundamentais na comunicação médica, algo que nem sempre ocorre da maneira mais suave entre profissionais e pacientes. “O ChatGPT pode comunicar sobre efeitos colaterais e uso de medicamentos, tratar de questões pré-exames e fazer orientações básicas de saúde. Ele pode ser uma unidade de interação básica com o paciente”, afirmou no evento Chao Wen, chefe da disciplina de telemedicina da faculdade.

Embora nos dias atuais muita gente rejeite a comunicação com chatbots básicos (como os de operadora de celular), a sofisticação do ChatGPT na criação de texto pode ter efeito contrário e gerar aproximação. “As pessoas tendem a acreditar mais na máquina quando elas apresentam características antropomórficas”, explica ao Estadão Alexandre Chiavegatto Filho, diretor do Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde (Labdaps) da USP.

Assim, o nível de confiança cresce quando a IA se assemelha de alguma forma a uma pessoa, algo que o ChatGPT faz bem na construção de textos. Essa capacidade pode potencializar atos semelhantes aos de procurar informações de saúde no Google.

A relação direta com o médico também pode se beneficiar do chatbot. Com capacidade para gerar texto com destreza, o ChatGPT poderia preencher os prontuários, liberando tempo de consulta para que o profissional possa estabelecer uma relação mais próxima dos pacientes. Esse é um tópico que vem sendo explorado pela startup americana Nuance. Em parceria com a Microsoft, a empresa desenvolveu uma ferramenta do tipo, que utiliza o GPT-4, versão mais recente do “cérebro” do ChatGPT.

Batizada de Dragon Ambient eXperience Express (DAX), ela identifica as falas das de médicos e pacientes e preenche automaticamente o documento com sintomas e diagnósticos, fazendo um resumo da consulta – ele pode registrar até quatro horas de conversa. Interessados no sistema devem procurar a Nuance, já que o serviço ainda não foi disponibilizado publicamente.

A automatização vai além: “O ChatGPT pode ajudar a preencher os formulários de autorização de planos de saúde, o que também acelera a velocidade de atendimento”, diz Chiavegatto.

Por fim, a comunidade médica já consegue imaginar o ChatGPT como ferramenta para monitorar pacientes à distância, permitindo a gestão e o acompanhamento de tratamentos. Por exemplo, o chatbot poderia servir como lembrete para tomar remédios, além de registrar as ações tomadas pelos pacientes.

“Estamos em um ponto na saúde no qual os tratamentos estão se tornando insustentáveis por conta de custos. Não há outra opção que não seja contar com assistência por IA se quisermos dar às pessoas os cuidados médicos no nível que elas demandam”, afirma Mariano García-Valiño, CEO da healthtech Axenya – a startup tem uma solução que combina IA com uma equipe humana para monitorar pacientes com diabetes.

Estamos em um ponto na saúde no qual os tratamentos estão se tornando insustentáveis por conta de custos. Não há outra opção que não seja contar com assistência por IA se quisermos dar às pessoas os cuidados médicos no nível que elas demandam

Mariano García-Valiño, CEO da healthtech Axenya

Acompanhamento humano

De fato, ninguém imagina que sistemas inteligentes vão dispensar completamente o auxílio humano – pelo menos, não no curto prazo. O futuro deve envolver equipes médicas monitorando e filtrando aquilo que a máquina fala para os pacientes. “No final, quem ainda é responsável é o médico”, diz Giovanni Cerri, presidente do conselho de inovação do Hospital das Clínicas.

As preocupações são bastante importantes. O ChatGPT é uma ferramenta para gerar texto a partir de modelos probabilísticos, o que significa que a qualidade do conteúdo não é a prioridade do sistema. Isso significa que ele demonstra certeza sobre qualquer fato – mesmo que a probabilidade de estar correto seja baixa. Além disso, o banco de dados usado no treinamento do sistema tem informações até 2021 – e não é específico da área médica.

“Talvez, no futuro, a gente possa imaginar algoritmos específicos de saúde, ligados a inteligências corporativas institucionais. Seria uma espécie de nuvem da saúde”, argumentou Wen no evento da FMUSP. Algoritmos capazes de olhar para bancos de dados focados em conhecimento médico estão no radar de quem desenvolve a tecnologia.

ChatGPT jogou luz sobre o potencial da IA na saúde  Foto: Wu Hao / EFE

No ano passado, a Microsoft criou em caráter experimental o BioGPT, uma IA com tecnologia similar a do ChatGPT treinada com dados da literatura biomédica. Nos testes, o BioGPT superou outras IAs generalistas em tarefas de geração de textos relacionados à biomedicina.

Na quinta-feira 23, a OpenAI também revelou a capacidade do ChatGPT ter “plugins” – ou seja, agora é possível empresas conectarem bancos de dados específicos para que sejam consultados pelo chatbot, o que garante conhecimento específico apresentada com a linguagem fácil da ferramenta. Inicialmente, não há plugins de saúde na modalidade, mas o novo modelo prova ser possível um projeto do tipo.

Futuro

Especialistas apontam que uma grande revolução irá acontecer quando a saúde for abastecida por algoritmos preditivos. Ou seja, sistemas de IA que conseguem ler dados específicos de pacientes e diagnosticar doenças e prever a evolução de tratamentos. O ChatGPT não é capaz de fazer algo do tipo.

“São algoritmos muito complexos e que exigem muitos testes. “Na saúde, a resposta mais fácil não é a melhor. Respostas simplistas são muito raras”, afirma Chiavegatto. Ele, porém, aponta para a importância da ferramenta da OpenAI na abertura das fronteiras para a tecnologia.

O ChatGPT trouxe holofotes para toda IA. Ele entra para a história por marcar a primeira vez em que as pessoas estão ativamente procurando por um algoritmo

Alexandre Chiavegatto, diretor do Labdaps

“O ChatGPT trouxe holofotes para toda IA. Ele entra para a história por marcar a primeira vez que as pessoas estão ativamente procurando por um algoritmo”, diz.

Em editorial, a revista de ciência Nature apontou para a necessidade de toda a comunidade médica prestar atenção no tema. “O uso do ChatGPT e outros modelos de linguagem na saúde exigem consideração cuidadosa para garantir que existam proteções com usos potencialmente danosos”, diz o texto.

Com as devidas proteções, o potencial do novo “médico da família” promete ser enorme. “Modelos como o ChatGPT são uma oportunidade de expandir a capacidade humana, e não uma oportunidade para ser um atalho preguiçoso,” diz Chiavegatto.

Cientistas descobrem mecanismo para desarmar ‘bomba-relógio’ que causa metástase após câncer de mama

É possível bloquear proteína existente no pulmão (onde o novo tumor se instala) com um remédio usado para tratar pacientes com leucemia mielóide crônica

O tipo mais comum de câncer de mama é o receptor de estrogênio positivo (ER+) – Foto: Pexels

Pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Câncer (ICR), em Londres, descobriram como células do câncer de mama se espalham para os pulmões, passam anos “adormecidas” lá e, quando acordam, se tornam tumores praticamente incuráveis. Os cientistas descobriram também um mecanismo para frear essa “bomba-relógio” que causa metástase no pulmão — um dos lugares mais comuns para onde o câncer pode se espalhar. Já existe, inclusive, uma droma capaz retardar o crescimento desses tumores secundários, sugere o estudo em camundongos.

Pacientes com o tipo mais comum de câncer de mama — o receptor de estrogênio positivo (ER+) — permanecem em risco de recorrência do câncer em outra parte do corpo (metástase) por décadas após o diagnóstico inicial, mesmo após o tratamento bem-sucedido. Cerca de 80 em cada 100 casos de câncer de mama são positivos para receptores de estrogênio.

Em uma tentativa de entender as pistas que levam essas células a entrar em ação e formar tumores, os pesquisadores estudaram camundongos com câncer de mama ER+ que foram submetidos a exames. As descobertas, publicadas na revista científica Nature Cancer, sugerem que mudanças moleculares dentro do pulmão estimulam o crescimento de tumores secundários.

A proteína PDGF-C — que é vital para o crescimento e sobrevivência dos tecidos — desempenha um papel fundamental em determinar se as células inativas do câncer de mama permanecem adormecidas ou “acordam”.

O aumento dos níveis da proteína, o que ocorre devido ao envelhecimento ou quando o tecido pulmonar fica danificado ou cicatrizado, pode fazer com que as células cancerígenas dormentes cresçam e formem um câncer secundário no pulmão.

Os pesquisadores então exploraram se o bloqueio da atividade do PDGF-C poderia ajudar a prevenir o “despertar” dessas células. Eles deram aos camundongos um bloqueador de crescimento do câncer chamado imatinib, que atualmente é usado para tratar pacientes com leucemia mielóide crônica.

Os animais foram tratados com a droga antes ou depois do desenvolvimento dos tumores. Entre os dois grupos, o crescimento do câncer no pulmão foi significativamente reduzido, de acordo com os resultados do estudo.

“Descobrimos como o envelhecimento do tecido pulmonar pode fazer com que essas células cancerígenas ‘despertem’ e se transformem em tumores e descobrimos uma estratégia potencial para ‘desarmar’ essas ‘bombas-relógio'”, afirmou Frances Turrell, pós-doutorando no departamento de Pesquisa do Câncer de Mama no ICR e principal autor do estudo ao jornal britânico Daily Mail. “Agora planejamos desvendar melhor como os pacientes podem se beneficiar do medicamento existente imatinib e, a longo prazo, pretendemos criar tratamentos mais específicos direcionados ao mecanismo de ‘despertar’.

Para Clare Isacke, professora de biologia celular molecular no ICR e coautora do estudo, esse é um “avanço empolgante na compreensão do câncer de mama avançado”.

“[Descobrimos] como e por que as células do câncer de mama formam tumores secundários nos pulmões. Em seguida, precisamos identificar quando essas mudanças relacionadas à idade acontecem e como elas variam entre as pessoas, para que possamos criar estratégias de tratamento que impeçam o ‘despertar’ das células cancerígenas”, explicou.

Para os pesquisadores, esse estudo tem o potencial de beneficiar milhares de mulheres que vivem com esta “bomba-relógio” no futuro, garantindo que menos pacientes recebam as notícias devastadoras que a doença se espalhou.

‘Face Ozempic’: as dietas com remédios que rejuvenescem o corpo, mas deixam o rosto despencado

Ao perder gordura muito rapidamente, o organismo direciona nutrientes para onde eles são mais necessários, isto é, os órgãos vitais
Por Ana Lucia Azevedo — Rio de Janeiro

Medicamentos que provocam emagrecimento rápido afetam gordura subcutânea do rosto – Foto: Arte de Andre Mello

O corpo dos sonhos pode vir acompanhado por um rosto de pesadelo, descobriram usuários da classe de drogas que promove uma revolução no tratamento da obesidade. A pessoa emagrece muito e depressa. Mas o rosto desaba junto com o ponteiro da balança. Se o corpo rejuvenesce, com o rosto o efeito, por vezes, é o contrário. O problema ganhou até nome, segundo o New York Times, cunhado pelo dermatologista americano Paul Jarrod Frank: face de Ozempic, em alusão ao mais conhecido desses medicamentos.

No Brasil e no mundo, a hashtag #ozempicface acumula dezenas de milhões de visualizações e milhares postagens em redes sociais — já se aproximam de cem milhões só no Tik Tok. Famosos e anônimos unidos pela mesma cara. E o problema nada tem a ver com o Ozempic nem algum dos outros remédios propriamente ditos. Eles não fazem o rosto cair.

Isso acontece porque levam a uma perda de peso expressiva e rápida — em alguns casos cerca de 10% do peso corporal. Os primeiros resultados, muitas vezes, já podem ser observados em cerca de uma semana. Mas, como já dizia Catherine Deneuve, “após uma certa idade você precisa escolher entre o seu rosto e a sua bunda”.

O rosto de Ozempic não surpreendeu dermatologistas especializados em estética, já acostumados a atender pessoas que emagrecem muito. O que diferente agora é a quantidade de pessoas e o ritmo em que o rosto fica com a aparência de ter sido chupado.

Para quem tem carteira gorducha, há solução. Mas é cara, assim como as medicações, cujo custo mensal pode ultrapassar facilmente R$ 1.000. O wegovy (semaglutida) , por exemplo, pode chegar a R$ 6 mil.

As drogas são chamadas de mimetizadores de incretina ou remédios baseados em GLP-1. Isso porque são compostos por uma proteína sintética chamada semaglutida, que imita o efeito do hormônio GLP-1 associado à sensação de saciedade. O GLP-1 diz ao cérebro que o corpo está satisfeito. Ou seja, tira a vontade de comer.

Há ainda a droga tizepartida, que atua sobre o GLP-1 e o GLP, hormônio também ligado ao apetite e à saciedade. Nos EUA, a tizepartida foi aprovada com o nome comercial de mounjaro e há expectativa que seja aprovada este ano no Brasil.

Esses medicamentos foram originalmente desenvolvidos para o tratamento do diabetes do tipo 2, mas se mostraram mais eficientes do que qualquer outra droga conhecida para diminuir o peso. Eles chegam a levar à redução superior a um quinto da massa corporal. Mas precisam ser tomados, a princípio, para sempre. E, claro, acompanhado de dieta e atividade física.

É um alto preço que milhões de pessoas têm se disposto a pagar. No Brasil são aprovados pela Anvisa os injetáveis Ozempic (mas apenas para a diabetes, o uso contra a obesidade é “offlabel”) e Wegovy e o Rybelsus (comprimidos).

O impacto no mercado, na medicina e no comportamento tem sido comparado ao do valium contra a ansiedade nos anos 80, ao do prozac contra a depressão nos anos 80 e ao do viagra contra a impotência no fim dos anos 90.

As drogas com semaglutida já movimentam um mercado de US$ 23 bilhões por ano somente contra diabetes. As projeções são de que o uso contra a obesidade faça esse montante chegar a US$ 100 bilhões nos próximos anos.

Mas como não existe, literalmente, almoço grátis para quem quer emagrecer muito e depressa, a conta para recuperar o rosto é pesada.

A partir dos 30 anos, faz parte do processo de envelhecimento perder gordura no rosto. E, por ter menos gordura subcutânea que outras partes do corpo, o rosto fica desproporcionalmente mais magro quando se perde peso, explica a dermatologista Luiza Guedes.

E é por isso que emagrecer muito depressa pode fazer o rosto despencar. A meta pode ser perder gordura no abdômen, no quadril, nas coxas e nas nádegas, mas o ritmo do corpo é outro e o rosto afina primeiro. O efeito é mais acentuado em pessoas que já têm naturalmente o rosto alongado.

A gordura subcutânea dá sustentação à face. Com menos gordura, a pele cai. Fica flácida e a pessoa ganha uma aparência envelhecida e de permanente cansaço. Guedes diz que isso acontece não apenas com a pele, mas também com os cabelos, que podem se tornar mais finos e menos volumosos. O corpo, ao perder gordura, direciona nutrientes para onde são mais necessários, isto é, os órgãos vitais.

— O rosto fica esvaziado, lipodistrófico. Isso costuma ocorrer com quem faz cirurgia bariátrica. O que vemos acontecer agora é o aumento desse problema porque mais pessoas estão tendo acesso a tratamentos que proporcionam emagrecimento rápido — explica Guedes.

Quanto mais velha a pessoa, pior será o efeito no rosto. A cor da pele também influencia. Pessoas negras têm mais gordura subcutânea na pele e são menos afetadas.

Guedes diz que preencher a gordura perdida não basta. A recomendação é usar ultrassom para reposicionar os tecidos e dar mais firmeza ao rosto. A isso se soma o uso de bioestimuladores, para acelerar a produção de colágeno e repor a elasticidade e de preenchimento, evitando neste último a aplicação de metacrilato, que é mais barato, mas pode ter resultado desastroso e permanente.

— O rosto caído e esvaziado de quem emagrece muito é um clássico da dermatologia. Mas as pessoas precisam saber que mesmo se mantiverem o peso, perderão gordura subcutânea no rosto à medida que envelhecerem. Se fizerem regime, isso vai se acelerar — destaca Guedes.

Preta Gil: entenda o que é o adenocarcinoma no intestino diagnosticado na cantora

Câncer maligno pode se desenvolver em diversos locais do corpo; artista iniciará tratamento na próxima segunda
Por Bernardo Yoneshigue

Preta Gil foi diagnosticada com um câncer no intestino após passar seis dias internada na clínica São Vicente, no Rio

A cantora Preta Gil revelou na noite desta terça-feira ter sido diagnosticada com um adenocarcinoma no intestino, um tipo de câncer maligno, após passar seis dias hospitalizada na clínica São Vicente, no Rio de Janeiro. Em publicação nas redes sociais, a artista disse que iniciará o tratamento na próxima segunda-feira.

“Tenho adenocarcinoma na porção final do intestino. Inicio meu tratamento já na próxima segunda-feira e conto com a energia de todos para seguir tranquila e confiante”, escreveu.

O que é adenocarcinoma?

O adenocarcinoma é o nome dado a um tumor maligno que surge nas células dos tecidos epiteliais glandulares, responsáveis pela secreção. Por isso, é um tipo de câncer que pode se manifestar em diversos órgãos, sendo mais comum em lugares como próstata, pulmão, trato gastrointestinal, mama e intestino, como é o caso de Preta Gil.

A médica Renata D’Alpino, oncologista especializada em tumores gastrointestinais do Centro Paulista de Oncologia, em São Paulo, explica que o adenocarcinoma é a forma mais comum de tumor maligno do intestino.

Ele é, portanto, uma das formas do diagnóstico que também é conhecido como câncer colorretal e câncer de cólon, que engloba todos os tumores que se iniciam na parte do intestino grosso chamada cólon, no reto e no ânus. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são cerca de 45 mil casos e 20 mil óbitos ao ano, de forma proporcional entre homens e mulheres.

— Mas estamos vendo um aumento em pacientes mais jovens, com menos de cinquenta anos, principalmente entre sedentários e obesos — diz a oncologista.

Ela aponta, por exemplo, que ele é o segundo mais frequente entre mulheres, atrás apenas do câncer de mama. Já nos homens, está atrás do câncer de próstata e de pulmão, porém em trajetória ascendente para ocupar a segunda posição.

Adenocarcinoma tem cura?

O câncer de intestino chamou atenção recentemente por ter sido a causa da morte dos ex-jogadores Pelé e Roberto Dinamite. No entanto, é uma doença tratável e que pode ser curada, especialmente quando detectada de forma precoce e alvo do devido tratamento.

Quais são os sintomas do adenocarcinoma?

Os principais sintomas envolvem dores abdominais e sangue nas fezes. Porém, especialistas ressaltam que esses são sinais recorrentemente associados a outros problemas de saúde, como úlcera gástrica e hemorroidas, por isso não são motivo para desespero.

O importante é se estar atento e, em caso de queixas como as listadas abaixo, procurar um médico especializado. Ele poderá identificar se há de fato uma suspeita de câncer, a partir do histórico do paciente, e encaminhar os devidos exames para realizar o diagnóstico correto.

Confira os sintomas do adenocarcinoma:

  • Sangue nas fezes;
  • Alteração do hábito intestinal (diarreia e prisão de ventre alternados);
  • Dor ou desconforto abdominal;
  • Fraqueza e anemia;
  • Perda de peso sem causa aparente;
  • Alteração na forma das fezes (fezes muito finas e compridas);
  • Massa (tumoração) abdominal.

Como é o tratamento do adenocarcinoma?

Segundo informações do Inca, o câncer de intestino é “uma doença tratável e frequentemente curável”. Geralmente, a intervenção inicial é cirúrgica para retirar a parte do intestino afetada pelo tumor. A depender do melhor tratamento indicado pelo médico, outras etapas podem envolver sessões de radioterapia e quimioterapia.

— A cirurgia é o tratamento principal e, de acordo com a extensão do tumor, o quanto ele invade a parede do cólon, se tem acometimento dos linfonodos, vamos indicar o tratamento adjuvante com quimioterapia e radioterapia ou não. Nesse caso é para evitar a chance de a doença voltar — explica a oncologista Bárbara Sodré, coordenadora de oncologia do Hospital Marcos Moraes, especializado em câncer, e diretora técnica da unidade de Botafogo da Oncoclínicas, ambos no Rio de Janeiro.

A eficácia do tratamento depende principalmente de onde o tumor está localizado, e o seu tamanho e extensão. Em casos de metástase, quando o câncer se espalha para outras regiões do corpo, as perspectivas de cura são reduzidas. Por isso, a detecção precoce é tão importante para um bom desfecho.

Fatores de risco e prevenção do adenocarcinoma:

Os principais fatores que aumentam o risco de câncer de intestino são idade superior a 50 anos, obesidade e alimentação não saudável. O consumo de carnes processadas, como salsicha e presunto, e a ingestão excessiva de carnes vermelhas (acima de 500g por semana) também são hábitos relacionados a uma maior incidência da doença, diz o Inca.

Além disso, histórico do tumor na família, diagnósticos anteriores de câncer, tanto no intestino, como no ovário, útero ou mama, também elevam o risco do problema. Outras práticas nocivas que podem favorecer o desenvolvimento do câncer são o tabagismo e o excesso de bebidas alcoólicas.

— O exame de rastreamento, para identificar de forma precoce, é a colonoscopia, que é indicada para todas as pessoas acima de 45 anos. Os pacientes com história familiar do diagnóstico devem ter uma atenção especial. Em alguns critérios, esse rastreamento pode ser orientado mais cedo — explica Bárbara.

Ela menciona que se a mãe de uma pessoa, por exemplo, teve câncer de intestino aos 40 anos, o indicado passa a ser que os exames de rastreamento comecem a ser realizados dez anos antes, ou seja, aos 30 anos. O intervalo entre eles vai depender da orientação do médico que faz o acompanhamento.

O tumor no intestino também pode ser decorrente ainda de outras condições de saúde que inflamam o intestino, como retocolite ulcerativa crônica e doença de Crohn.

‘Sou psicopata’: mulheres contam como é viver com o distúrbio

Psicopatia é uma condição que especialistas tratam como mal compreendida.
Por BBC

A psicopatia é geralmente é associada aos homens, particularmente aos criminosos, e é muito pouco estudada nas mulheres — Foto: SOMSARA RIELLY

A psicopatia é uma condição que condena e fascina muitas pessoas, mas o estigma profundamente arraigado em volta dela indica que o distúrbio ainda é mal compreendido — especialmente quando afeta as mulheres.

Victoria sabia que seu namorado tinha uma esposa, mas, depois de alguns anos, ela começou a suspeitar que ele tivesse outras amantes.

Ela não tinha provas, mas a linguagem corporal do namorado o denunciava, segundo ela. Suas histórias não faziam sentido. Seu rosto parecia diferente quando ele mentia.

“Acontece que tenho excelente memória quando se trata de conversas”, ela conta. “Ele não sabia mentir bem. Não sei como a esposa dele nunca o desmascarou.”

Diversas formas de punição surgiam na mente de Victoria, até que ela se decidiu por uma delas. Levaria algum tempo e ela precisaria agir como se não soubesse de nada. Foi assim que, por vários meses, Victoria continuou a vê-lo, mas enviava fotos do seu namorado nu para a esposa dele.

Perturbado, ele procurou Victoria, se perguntando quem poderia estar enviando essas fotos. Sua esposa estava arrasada. Ele confessou a Victoria que, de fato, estava dormindo com outras mulheres. E não suspeitou que era Victoria quem estava enviando as fotos.

Quando Victoria se cansou de tudo e quis terminar o relacionamento, ela enviou à esposa do namorado uma coleção final de fotografias. Na última imagem, a própria Victoria aparecia junto ao homem. Com essa revelação explosiva, Victoria saiu da vida deles para sempre.

Quando Victoria contava esta história para as pessoas, sua petulância as espantava.

“Elas me perguntavam ‘por que você fez isso com a esposa dele? O que a esposa dele fez para merecer isso? O que ela fez para magoar você?'”, ela conta. “E eu pensava, ‘bem, a vida é injusta’.”

Ela faz uma pausa.

“Acho que este é um bom exemplo de uma característica psicopata extrema que eu costumava ter. Indiferença.”

Mulheres com psicopatia costumam exibir menor tendência à violência que os homens e mais manipulação interpessoal — Foto: SOMSARA RIELLY

Mulheres com psicopatia costumam exibir menor tendência à violência que os homens e mais manipulação interpessoal — Foto: SOMSARA RIELLY

A definição da psicopatia

A psicopatia não é um diagnóstico oficial de saúde mental e não está presente na mais recente edição do Manual Estatístico e de Diagnóstico de Distúrbios Mentais. Ela está agrupada sob a classificação mais ampla de distúrbio da personalidade antissocial, embora a psicopatia seja amplamente usada em ambientes clínicos em todo o mundo.

Ela é entendida como sendo um distúrbio neuropsiquiátrico, em que uma pessoa exibe níveis anormalmente baixos de empatia ou remorso, muitas vezes resultando em comportamento antissocial e, às vezes, criminoso.

O termo foi usado por médicos europeus e americanos no início dos anos 1900 e tornou-se comum em 1941, após a publicação do livro The Mask of Sanity (“A máscara da sanidade”, em tradução livre), do psiquiatra norte-americano Hervey M. Cleckley.

“Os principais acadêmicos do mundo vêm debatendo a definição da psicopatia”, segundo a psicóloga e neurocientista Abigail Marsh, da Universidade de Georgetown em Washington D.C., nos Estados Unidos. “Você terá explicações muito diferentes da psicopatia, se falar com um psicólogo forense ou criminologista.”

Marsh afirma que os psicólogos criminalistas tendem a classificar as pessoas como psicopatas somente se exibirem comportamento extremo e violento. Mas, para ela, a condição se apresenta na forma de espectro com outros comportamentos menos dramáticos, que podem variar de uma pessoa para outra.

Os psicólogos e psiquiatras, de forma geral, concordam que uma ou duas a cada 100 pessoas, na população em geral, atendem ao critério de psicopatia. Mas Marsh afirma que até 30% das pessoas exibem algum grau de características psicopatas na população em geral.

Para as pessoas com psicopatia, isso pode significar que elas têm dificuldades para manter amizades próximas e se colocam em situações de risco, mas a condição também é prejudicial para as pessoas à sua volta.

“Muitas vezes, ter por perto uma pessoa insensível ou manipuladora é devastador e cansativo para as pessoas que vivem com alguém com psicopatia extrema”, afirma Marsh.

Ela afirma que a maioria dos estudos referentes às pessoas com psicopatia tem sido conduzida com criminosos. Alguns desses estudos indicam que os psicopatas — ou as pessoas que exibem características psicopatas— representam um número desproporcional de pessoas na prisão, embora existam controvérsias sobre sua real incidência.

De forma geral, as pesquisas indicam que a incidência de psicopatia é maior entre os criminosos homens (representando talvez 15 a 25% dos prisioneiros) do que entre as mulheres (10 a 12%).

Mas este ainda é um campo pouco estudado na população em geral e ainda menos pesquisas são realizadas com mulheres.

As mulheres com psicopatia

Embora diversos estudos indiquem que a incidência da psicopatia é maior entre os homens do que entre as mulheres, Marsh argumenta que isso pode se dever, em primeiro lugar, à forma em que os exames foram idealizados.

“As escalas iniciais de psicopatia foram principalmente desenvolvidas e testadas na população prisional de homens na Columbia Britânica [no Canadá] por Bob Hare”, afirma ela.

O psicólogo canadense Robert Hare desenvolveu a Lista de Controle da Psicopatia (agora chamada PCL-R) nos anos 1970 e uma versão revisada é frequentemente considerada o padrão-ouro global para o teste de características psicopatas. Ela é agora a ferramenta de diagnóstico validada e mais frequentemente empregada para determinar a psicopatia.

A PCL-R mede a escala de desconexão emocional que alguém pode ter, tal como sua disposição de manipular alguém até um resultado desejado, independentemente das consequências, bem como seu comportamento antissocial, como escolhas agressivas ou impulsivas que podem ser violentas ou envolver o abandono abrupto das responsabilidades.

“Adaptações dessa escala são utilizadas hoje em dia em amostras não institucionalizadas, incluindo mulheres e crianças em diversos países, mas permanece aberta a questão de se você usaria essas mesmas questões para começar se fosse lidar com mulheres não criminosas”, afirma Marsh.

Uma análise dos pesquisadores em 2005 também comparou características centrais de mulheres e homens com psicopatia. Eles indicaram que as mulheres, muitas vezes, exibiam características como impulsividade debilitadora (como falta de planejamento), falsidade nos relacionamentos interpessoais e agressões verbais.

Por outro lado, os pesquisadores concordaram que a psicopatia nos homens tende a se manifestar com violência e agressões físicas. Mas, na época, elas indicaram que não haviam sido realizadas pesquisas suficientes sobre o motivo para isso. E, 17 anos depois, não houve grandes mudanças.

A estudante de PhD de psicologia da Universidade de Madri, na Espanha, Ana Sanz García e seus colegas realizaram uma análise mais recente, em 2021, de estudos de pesquisa publicados, que avaliaram mais de 11 mil adultos para determinar psicopatia. Ela concorda que são necessários mais estudos concentrados nas mulheres e em pessoas não criminosas com psicopatia.

Sanz García afirmou à BBC que os estudos até hoje demonstram que as mulheres com psicopatia exibem menos propensão à violência e ao crime do que os homens, mas existem mais exemplos de manipulação interpessoal.

“Seria interessante estudar os fatores que explicam por que, entre as mulheres com alto grau de psicopatia, existe menor probabilidade de cometer atos criminosos e antissociais do que entre os homens”, afirma ela. “Se esses fatores forem descobertos, será possível criar um programa para evitar que homens e mulheres com alto grau de psicopatia cometam esses atos antissociais e criminosos.”

Acredita-se que a genética e o ambiente de criação de uma pessoa influenciem a psicopatia. — Foto: SOMSARA RIELLY

Também neste caso, não há pesquisas suficientes para determinar os motivos, mas um estudo recente na França indica uma possível resposta: a frieza e a falta de emoção parecem desempenhar um papel mais central na psicopatia feminina do que entre os homens. E as mulheres também exibem menos comportamentos violentos e antagonistas que na psicopatia masculina.

Manipulação como entretenimento

Victoria afirma que o seu comportamento manipulador começou a surgir como forma de entretenimento próprio.

Ela nasceu na Malásia, em uma família de classe média. O alcoolismo do seu pai e a falta de responsabilidade pessoal pelas consequências da bebida tornaram seu lar infeliz.

Ela teve sucesso nos estudos, mas se sentia frequentemente aborrecida. Para se divertir, ela gostava de passar adiante informações confidenciais que recebia das pessoas, segredos que ela havia jurado guardar. Quem odiava quem. Quem gostava de quem.

As tensões entre os alunos no ensino médio, muitas vezes, eram causadas por ela. Victoria sabia manipular os outros para que assumissem a responsabilidade pelos erros que ela cometeu e sabia o que dizer para se livrar de problemas. Ela chegou a convencer uma professora de que tinha atirado um giz nela apenas por pressão dos colegas.

“Era o que ela queria ouvir”, ela conta. “Ela queria acreditar que aquela menina inteligente não era ruim, apenas facilmente influenciável.”

Mais recentemente, Victoria estava obtendo ajuda para controlar seus impulsos. Mas ela também encontrou apoio, embora possa parecer estranho, de pessoas como ela.

Pergunto a ela sobre diversos vídeos recentes conhecidos como “o desafio do psicopata”, que viralizaram no TikTok, somando mais de 20 milhões de visualizações. Eles discutem como os espectadores podem “identificar um psicopata”.

A hashtag “psicopata” é uma das mais populares naquela rede social, com mais de dois bilhões de visualizações. Ela é usada para marcar diversos assuntos, incluindo imagens de pessoas com psicopatia em julgamentos, e também é usada como insulto para maus comportamentos.

O que fica claro é que pessoas acham o tema da psicopatia e seus portadores, ao mesmo tempo, fascinantes e repulsivos.

Victoria não acha esses vídeos ofensivos.

“Parte de ser psicopata é não se importar com o que as pessoas pensam, de forma que isso não me aborrece”, afirma ela. “Mas mostra a pouca compreensão das pessoas sobre o espectro completo da condição.”

A exceção, para ela, são os vídeos que discutem se as pessoas com psicopatia são mais propensas a maltratar os animais. “Muitos de nós preferimos animais aos seres humanos”, afirma ela, secamente.

Sociopata ou psicopata?

O que Victoria indica como “nós” é uma comunidade online de mulheres como ela. Ela está concentrada principalmente no blog da escritora M. E. Thomas, talvez uma das mais conhecidas mulheres com psicopatia. A avaliação de psicopatia de Thomas, realizada pelo psicólogo forense John Edens, da Universidade A&M do Texas, nos Estados Unidos, foi de 99%.

O blog de Thomas, intitulado Sociopath World, detalha como é a vida com psicopatia. Ela afirma que usava a palavra sociopata em vez de psicopata porque achava que era um termo que seria compreendido por mais pessoas.

Sociopatia não é um termo clínico amplamente aceito, e psicólogos como Abigail Marsh afirmam que, às vezes, ele é usado por indivíduos que podem sentir o estigma relacionado à palavra “psicopata”.

Um agente literário descobriu o blog de Thomas e ofereceu um contrato para um livro. Confessions of a Sociopath: A Life Spent Hiding in Plain Sight (“Confissões de uma sociopata: uma vida passada escondendo-se à vista de todos”, em tradução livre) foi publicado em 2012 e traduzido para mais de 10 idiomas. Um filme baseado no livro, estrelado pela atriz norte-americana Lisa Edelstein, está atualmente em produção.

“Vejo-me como uma fórmula, não como uma pessoa”, afirma Thomas. “É como ser uma planilha do Excel, onde examino o que faço e digo calculando o possível resultado.”

Um exemplo pode ser dizer a alguém que ela o ama quando quer algo dele, afirma Thomas. Ela conta que já fez isso algumas vezes e gerou o rompimento de vários relacionamentos.

Um estudo de 2012 da Universidade de Zurique, na Suíça, também descobriu que a risada é frequentemente usada pelas pessoas psicopatas como instrumento intencionalmente manipulador. Ela as ajuda, por exemplo, a controlar a conversa. Ou, às vezes, a rir da pessoa com quem estão falando – e não com ela.

Thomas afirma que seu agente a instrui a não usar a palavra “manipuladora” quando falar sobre si mesma, mas sim dizer que sabia como influenciar as pessoas desde a infância. Mas “manipuladora” é a palavra que ela usa. Ela afirma que essa qualidade a ajudou a tornar-se uma boa advogada, que ainda é a sua profissão.

Quando ela fala, as pessoas não conseguem identificar seu sotaque. Elas acham que Thomas pode ser de Israel ou da Europa oriental, embora ela tenha vivido toda a sua vida na Califórnia.

“Você tem sotaque quando se socializa para ter identidade. Eu nunca tive identidade”, ela conta. “Tenho um sentido muito fraco de mim mesma.”

Possíveis benefícios?

No seu blog, M.E. Thomas compartilha seus pensamentos diários e entrevista outras pessoas que vivem com características psicopatas. Ela conta que muitos dos seus leitores encontram refúgio nas suas postagens e vídeos, pois é um lugar onde elas reconhecem seus próprios padrões e compartilham experiências sem que sejam julgadas por isso.

Observar a psicopatia como um espectro pode significar que as características que a definem são muito mais comuns entre a população em geral do que o indicado pela maioria dos estudos — Foto: SOMSARA RIELLY

Uma de suas leitoras é Alice, uma mulher alemã de 27 anos de idade. Ela afirma que é frustrante ler artigos ou assistir a ilustrações de pessoas com psicopatia como indivíduos maldosos que precisam ser evitados. “Nós existimos em uma escala, como todos os demais”, afirma ela.

Como Thomas, Alice é agradável à primeira vista, talvez porque ela sorri muito. Ela admite desde o início que está imitando o que ela sabe ser socialmente adequado.

Alice vem fazendo isso por toda a vida. Quando sua avó morreu, ela observou o luto da sua irmã e copiou seu comportamento.

Ela afirma que também finge ser sarcástica, pois isso permite que ela diga impunemente o que tem na mente, sem causar alarme.

Alice aprendeu isso já aos 12 anos de idade, quando estava de férias em um navio e se perguntou em voz alta como seria observar as pessoas afundarem em caso de acidente. A reação dos seus pais e amigos a ensinou que era importante enquadrar esse tipo de pensamento como humor ácido e não como um pensamento obscuro.

Embora Thomas descreva sua característica psicopata dominante como manipulação e Victoria afirme que sua marca é a indiferença, Alice aponta sua falta de empatia como sua característica mais evidente.

“Não tenho nenhuma empatia emocional, mas tenho muita empatia cognitiva”, afirma ela, com sorriso inabalável. “Se alguém se machucar, por exemplo, ferir o joelho ou quebrar um braço, posso não sentir nada por eles emocionalmente, mas sei que preciso conseguir ajuda e assim o faço.”

E isso, segundo ela, faz com que ela seja uma boa pessoa para ter por perto em situações de emergência.

“As pessoas me contam seus problemas e não fico ofuscada pelas emoções, de forma que aquilo não me afeta e posso ouvi-las e oferecer conselhos racionais”, ela conta. “Outras pessoas podem querer se distanciar porque aquilo aciona suas próprias emoções, mas isso não acontece comigo.”

Alice não é a única que acredita que suas características podem ser benéficas para a sociedade. Os traços “positivos” da psicopatia são explorados pelo psicólogo Kevin Dutton, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, no seu livro A Sabedoria dos Psicopatas: O que Santos, Espiões e Serial Killers Podem nos Ensinar sobre o Sucesso (Ed. Record, 2018).

Em 2011, Dutton conduziu uma pesquisa no Reino Unido intitulada “A Grande Pesquisa sobre os Psicopatas Britânicos”. As profissões onde as pessoas mais exibiam características psicopatas foram os altos executivos, jornalistas, policiais, militares, cirurgiões e advogados.

Dutton argumenta que certas características de personalidade do espectro psicopata – incluindo a frieza sob pressão e reações menos empáticas às interações interpessoais – podem ajudar as pessoas a realizar seu trabalho sem que sejam, como diria Alice, “ofuscadas”.

É preciso apoio e desmistificação

“Todos conhecemos alguém com características psicopatas”, afirma Marsh, que é uma das fundadoras da organização Psycopathy Is. Ela oferece uma das poucas plataformas online que fornecem apoio para psicopatas e pessoas próximas.

Marsh afirma que seu objetivo é desmistificar a psicopatia e fornecer ferramentas de seleção para que as próprias pessoas possam se avaliar, com instrumentos confiáveis, e conseguir boas informações sobre o que fazer em seguida.

“A psicopatia não é uma categoria, é um espectro”, afirma ela. “Ela é distribuída entre a população em graus variáveis. Algumas pessoas causam destruição contínua e outras precisam apenas administrar os seus sintomas.”

“Quando não discutimos isso abertamente, as pessoas se lembram de Ted Bundy e Hannibal Lecter [assassinos em série – o primeiro, real, e o segundo, da ficção]”, afirma ele. “E então vemos tendências do TikTok preenchendo a lacuna de informações de especialistas.”

Muitos especialistas, incluindo Marsh, acreditam que está na hora de desfazer os mitos e o estigma que envolvem a psicopatia.

As causas subjacentes da psicopatia ainda são mal compreendidas, embora cada vez mais pesquisas de imagens neurológicas venham ajudando a indicar algumas das possíveis anormalidades do cérebro que podem explicar os sintomas.

Pesquisas indicam, por exemplo, que homens com psicopatia possuem reação reduzida em regiões do cérebro relacionadas ao processamento do medo e que existem indicações de que efeitos similares podem ser encontrados nas mulheres.

Alguns pesquisadores também indicaram diferenças no circuito neural das amígdalas cerebelosas, uma estrutura importante do cérebro responsável pelo processamento das emoções. Mas, como a maior parte das pesquisas sobre psicopatia, essas conclusões estão longe de ser consistentes e ainda precisam ser mais estudadas.

A genética e o ambiente das pessoas também são peças importantes do quebra-cabeça. Mas Marsh acredita que conseguir essas respostas exigirá que a sociedade como um todo desenvolva uma relação mais madura com a psicopatia.

“Eu realmente admiro o que a comunidade de pesquisa sobre o autismo fez nos anos 1990”, afirma ela. “Eles decidiram se libertar do estigma, dizendo às pessoas a verdade sobre a condição. Que é um distúrbio de espectro.”

“Nós, como pesquisadores de psicopatia, precisamos definir uma abordagem para realmente nos atirarmos ao desenvolvimento de melhores intervenções que possam ajudar as pessoas com psicopatia a viver vidas produtivas e prósperas”, defende Marsh.

Mas ela acrescenta que, até que isso aconteça, estamos fracassando com as pessoas com psicopatia.

“Isso significa que as pessoas – pessoas com o distúrbio, seus amigos e sua família – não estão conseguindo o apoio de que precisam”, afirma ela. “E isso prejudica a todos.”

Victoria, Alice e M. E. Thomas usam a meditação, terapia psicológica e apoio de colegas da sua comunidade online para ajudar a controlar o seu distúrbio.

“Não estar nas sombras ajuda”, afirma Thomas. “Mas ainda existe um estigma para a palavra ‘psicopata’. Ainda há muito trabalho a fazer e é preciso ter muitas conversas mais abertas. A realidade é que nós existimos.”

Características da psicopatia

Segundo o site PsychopathyIs.org (que teve como uma de suas criadoras a psicóloga e neurocientista Abigail Marsh, da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos), estas são algumas das principais características que se manifestam em casos extremos de psicopatia:

  • Abordagem egoísta e indiferente aos relacionamentos interpessoais.
  • Falta de empatia sobre o sofrimento ou angústias dos demais.
  • Falta de demonstração de remorso depois de machucar os outros ou desobedecer regras.
  • Pouco sentido de identidade consigo próprio.
  • Manipulação das pessoas para conseguir as coisas.
  • Dedicação a atividades perigosas ou arriscadas.
  • Charme superficial.

* Megha Mohan é jornalista especializada em gênero e identidade da BBC.

Essa reportagem foi originalmente publicada em http://news.bbc.co.uk/1/hi/63732969.stm