Individual de Loea no MAR une força feminina aos tons de cinza do subúrbio carioca

Natural de Bangu, pintora expõe 15 telas na mostra ‘Luz no caminho’, que retratam cenas de seu cotidiano e de sua intimidade
Por Nelson Gobbi

Leoa e uma das obras da exposição ‘Luz no caminho’ — Foto: Leo Martins

Inaugurada no sábado (18), na Biblioteca do Museu de Arte do Rio, a individual “Luz no caminho” reúne 15 telas da artista Leoa, natural do bairro de Bangu, na Zona Oeste do Rio. Em sua primeira individual em uma grande instituição, em cartaz até agosto, a pintora destaca o cotidiano do subúrbio em imagens afetivas, como a avó Margarida cozinhando, o ponto dos mototáxis ou uma mesa bagunçada com garrafas e pratos, ao final de uma festa de aniversário.

— A pintura traz a minha intimidade, quase todas são cenas da minha própria casa, ou da minha rua. Pode ser uma imagem do meu pai ajudando na minha mudança, ou um autorretrato em que estou preparando um banho de ervas, como boa macumbeira, filha de Oxalá — brinca Leoa, explicando a origem do nome artístico. — Muita gente acha que é pelos cabelos, mas é pela força que o animal representa. É a fêmea que sai para caçar enquanto o leão cuida dos filhos.

A representação da força feminina fica evidente em várias das obras da artista de 25 anos, um dos temas centrais de seu campo de pesquisa.

— Isso já vem do fato de eu ser uma mulher preta periférica, do peso que isso traz. E também do fato de ter tantas mulheres no meu cotidiano. Então, quando pinto uma mulher varrendo a calçada, diante do portão, pode ser uma vizinha, ou uma desconhecida. Mas também é a minha mãe, que tantas vezes vi fazendo isso — explica.

O autorretrato 'Banho de ervas' — Foto: Divulgação
O autorretrato ‘Banho de ervas’ — Foto: Divulgação

Após trabalhar em contabilidade por cinco anos, até 2021, Leoa decidiu abandonar o antigo emprego e se dedicar apenas à arte. Após um início autodidata, no ano passado ela conseguiu um acordo com a Sociedade Brasileira de Belas Artes, na Lapa, para utilizar o espaço, até que, por meio de seu perfil no Instagram, começou a comercializar as primeiras obras.

— Trabalhei em vários escritórios de contabilidade e sempre saía porque ficava desenhando durante o expediente — diverte-se Leoa. — Depois consegui esse acordo, em que dava oficinas de arte e eles me deixavam praticar lá. Tecnicamente, fui estudando sozinha e me desenvolvendo, e também tendo contato com pessoas que me aconselhavam.

Tela 'Quero seguir seus passos' — Foto: Divulgação
Tela ‘Quero seguir seus passos’ — Foto: Divulgação

Na individual curada por Marcelo Campos, Amanda Bonan, Jean Carlos Azuos, Thayná Trindade e Amanda Rezende, da equipe do museu, também se evidencia o uso de tons de cinza em destaque entre as cores das telas.

— Como estou sempre na rua, vejo muito esses tons de cinza, de uma barricada de cimento na comunidade, de uma parede descascada. Gosto de trabalhar com massas de tonalidades diferentes de cinza, e quando você se aproxima da tela as imagens vão perdendo a nitidez e ficam quase abstratas. Ao mesmo tempo, o cinza me traz o desafio de preencher de vida a tela com as outras cores — conclui a pintora.

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