Centenário de Pasolini é celebrado com retrospectiva de filmes e mostra de fotos do fotógrafo Paolo di Paolo no CCBB

Exposição traz 80 imagens do fotógrafo Paolo di Paolo, que acompanhou o cineasta e escritor italiano numa viagem pelo litoral do país em 1956
Por Nelson Gobbi

‘La prima volta al mare’, foto de Paolo di Paolo feita em Rimini, em 1959, em viagem com Pasolini — Foto: Archivio Fotografico Paolo Di Paolo

Em 1959, a Itália vivia um momento de transição, tentando superar os traumas da Segunda Guerra Mundial e, ao mesmo tempo, colhendo os frutos do milagre econômico que duraria até 1963, após anos de privações. Para registrar aquele que prometia ser o primeiro grande verão do pós-guerra, a revista Successo incumbiu o fotógrafo Paolo Di Paolo e o cineasta, escritor e dramaturgo Pier Paolo Pasolini de cruzarem a costa do país de carro, do Mar Tirreno ao Adriático, durante três meses.

As fotos da viagem são a base da exposição “Por uma longa estrada de areia”, inaugurada ontem no CCBB do Rio, após passar por Lisboa e Copenhague, com 80 registros de Di Paolo. Produzida pelo Instituto Italiano de Cultura do Rio em homenagem ao centenário de Pasolini (1922-1975), a exposição será acompanhada de uma mostra retrospectiva com filmes como “Desajuste social” (1961), “Mamma Roma” (1962) e “Rei Édipo” (1967). Também com exibições no próprio instituto, o ciclo “O cinema segundo Pasolini” vai promover a estreia nacional de “O jovem corsário” (2022), de Emilio Marrese, que reconstitui a juventude do cineasta em Bolonha. Outra mostra em parceria com a instituição, “Caro Pier Paolo” será realizada na Cinemateca do MAM, a partir do dia 29.

Diretora do Instituto Italiano de Cultura do Rio e curadora da mostra cinematográfica, Livia Raponi acredita que, em seu centenário, Pasolini seja mais bem compreendido como um artista visionário e multifacetado.

— Ele foi assassinado há quase 50 anos e ainda assim se mantém relevante e inspirador, de forma que outros intelectuais italianos não conseguiram — destaca Livia. — Ele não tinha medo de se despir por inteiro, de tratar de temas ainda incômodos, como a sexualidade ou questões sociais. E fazia isso transitando por diferentes meios, de forma muito contemporânea.

Além da homenagem a Pasolini, a mostra “Por uma longa estrada de areia” joga luz sobre a produção de Paolo Di Paolo, que ficou esquecida durante décadas. Após a mudança do mercado editorial italiano, com o fim de publicações como a revista ilustrada Il Mondo e o predomínio das imagens em cores, o fotógrafo abandonou a carreira em 1968 e virou historiador militar.

Sua trajetória foi descoberta por acaso, por sua filha, Silvia, há 20 anos. Procurando um par de esquis, ela encontrou em casa um arquivo com fotos e cerca de 250 mil negativos. Só quando perguntou aos pais de quem eram as imagens que soube da viagem com Pasolini e que ele havia fotografado algumas das maiores estrelas de seu tempo, como Marcello Mastroianni e Anna Magnani.

Após a descoberta, Silvia criou a Fundação Archivio Di Paolo e passou a fazer a curadoria de exposições com a obra do pai, como a que chega ao CCBB.

— Após parar de fotografar e se casar com minha mãe, que foi sua secretária, meu pai mudou-se de Roma para o interior e nunca mais falou no assunto. Quando encontrei as fotos, ele disse apenas que eram “coisas dele”, com naturalidade, como se não fossem parte da história italiana — conta Silvia Di Paolo, que veio ao Rio para a abertura da mostra. — O arquivo é imenso, até hoje não sei ao certo quantas fotografias são no total da viagem com Pasolini.

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Di Paolo vive atualmente em Roma, aos 97 anos. No Festival de Roma do ano passado, foi lançado o documentário “The treasure of his youth: The photographs of Paolo Di Paolo”, do fotógrafo de moda e cineasta americano Bruce Weber. O longa teve origem em 2017, quando Weber comprou registros do italiano num antiquário e quis saber quem era aquele fotógrafo desconhecido, ficando obcecado com a história do acervo escondido por mais de 50 anos.

— Ele se diverte acompanhando as menções a seu nome no Google, e brinca dizendo que é a Greta Garbo da fotografia, que também preferiu deixar a carreira no auge — diz Silvia, comentando as diferentes visões do pai e de Pasolini durante a viagem. — Meu pai queria parar e fotografar tudo, e Pasolini seguia mais calado, reflexivo. Ele estava buscando os seus fantasmas literários naquelas praias, enquanto meu pai queria registrar aquele desejo de mudança das pessoas.

Onde: CCBB. Rua Primeiro de Março 66, Centro (3808-2020). Quando: Seg e de qua a sab, das 9h às 21h; dom, das 9h às 20h. Até 2/8. Retrospectiva de 2 a 10/7, às 18h. Quanto: Grátis, com ingressos na bilheteria do CCBB ou pelo site Eventim. Classificação: Livre.

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