Democracia na Polônia pena enquanto país se fixa como potência mundial de games

Ex-país socialista, de onde vieram ‘The Witcher’ e ‘Cyberpunk 2077’, rende manchetes com medidas anti-LGBTs e antiaborto
Eduardo Moura

Cena do jogo polonês “Cyberpunk 2077” – Divulgação

“Cyberpunk 2077” é o game mais aguardado —e adiado— deste fim de ano. Não é uma produção americana nem japonesa. O jogo é polonês —e isso é uma exceção no universo dos chamados triple-A, os blockbusters dos jogos eletrônicos.

“Mas eu não acho que os gamers percebem dessa forma. Não é igual no cinema, em que você saca que o filme é estrangeiro logo de cara por causa da língua. Eu acho que os americanos vão achar que é um jogo americano, os poloneses vão achar que é um jogo polonês, e os brasileiros, bom, talvez os brasileiros vão achar que é americano”, diz Marcin Iwiński, um dos fundadores do CD Projekt RED, o estúdio criador de “Cyberpunk 2077”.

Isso porque, além da estética hollywoodiana e de o ator Keanu Reeves ter emprestado seu rosto a um personagem, o jogo trará movimentos labiais e até o gestual das personagens sincronizados com a respectiva língua de dublagem escolhida pelo jogador, seja ela inglês, português ou polonês, diz Iwiński

Mas como fica o futuro dessa indústria de games, que precisa atrair trabalhadores qualificados, num país que tem rendido manchetes por sua democracia cada vez mais fragilizada? Em outubro, milhares de manifestantes fecharam as ruas da capital Varsóvia e outras cidades depois que a Justiça proibiu uma das poucas formas de aborto legal no país. O Parlamento Europeu acusou o governo polonês de interferir na decisão.

Desde maio do ano passado, cerca de cem cidades polonesas, de um total de 900, assinaram declarações se dizendo “livres de LGBTs”. Em setembro, embaixadores de 44 países enviaram uma carta aberta ao governo da Polônia pedindo respeito aos direitos dos LGBTs –o Brasil não estava entre eles.

“A indústria de games aqui na verdade é pequena. Temos só 10 mil pessoas trabalhando no setor. Precisamos de força de trabalho vinda de outros países”, diz Paweł Feldman, diretor de negócios na 11 Bit Studios, em Varsóvia. E enquanto tenta atrair gente de fora, o país tenta lutar contra a fuga de cérebros —1,7 milhão de cidadãos deixaram a Polônia entre 2004 e 2016, quando o país se tornou membro da União Europeia.

Segundo Feldman, “isso já é um problema”. “Empresas tentam contratar gente de fora, e nem sempre conseguem. As pessoas estão com medo”, diz.

Mas como esse país antes socialista se tornou uma potência não óbvia na produção de jogos de videogame? Hoje são 440 empresas de games que geraram R$ 3 bilhões em receita no ano passado. A Polônia, aliás, não é novata no mundo da computação. Já em 1959, a empresa polonesa Elwro lançava o computador Odra.

A cultura gamer polonesa é outro ponto a se levar em conta. Segundo a consultoria Newzoo, no ano passado, eram 16 milhões de jogadores num país de 38 milhões de habitantes.

No pós-socialismo, por ser uma economia periférica, o país europeu viu florescer nos anos 1990 uma forte cultura de pirataria de games, o que permitiu que mais gente pudesse ter acesso a jogos, atiçando interesse na área.

Nos anos 2000, a presença de poloneses em jogos multiplayer online, como “Tibia”, dificilmente passava despercebida. A famosa saudação “br?br?” era quase tão comum quanto “pl?pl?” —era assim que jogadores identificavam se um interlocutor virtual era da mesma nacionalidade, brasileiros e poloneses nesta ordem.

Este repórter, por exemplo, consegue escrever pelo menos dois palavrões em polonês sem precisar conferir no Google, de tão xingado que já foi por jogadores poloneses de “Tibia”.

No ano passado, os poloneses foram um dos povos que passaram mais tempo na internet. Eram seis horas diárias em média, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, ocupando o oitavo lugar no ranking mundial —o primeiro lugar é do Brasil, com 9,3 horas diárias. ​

Mas foi o sucesso de um jogo local que pavimentou o caminho para que outros poloneses se arriscassem na empreitada de desenvolver jogos. O símbolo da virada de chave, que permitiu à Polônia ter seu puxadinho no Olimpo dos games, é a franquia “The Witcher”, jogada por pelo menos 50 milhões de pessoas no mundo.

O primeiro título da série de livros foi lançado na ressaca da queda do Muro de Berlim —e a evolução do personagem principal ao longo dos anos, sobretudo nos games, tem muito a ver com o desenvolvimento da própria Polônia.

O protagonista é Geralt de Rívia, um bruxo que viaja por um continente sem nome e mata criaturas em troca de recompensas. Muitas pessoas o conhecem na pele do bonitão Henry Cavill, na série da Netflix. Nem sempre foi assim.

“Nos livros ele é magrelo, estranho”, conta Suely Fragoso, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que atuou como pesquisadora na Polônia, investigando o universo de “Witcher”, dos romances aos videogames.

“Eles [os poloneses] têm um baita complexo de vira-lata. A figura do Geralt na saga do Sapkowski tem a ver com isso. É um cara bem intencionado, que sempre faz as coisas direito, mas sempre se ferra”, diz.
“Quando a CD Projekt transforma a história em game, começa a adaptar esse personagem para um momento mais aberto da Polônia, especialmente ‘The Witcher 3: Wild Hunt’ [de 2015]. Enquanto a resolução gráfica dos jogos vai melhorando, o Geralt vai virando um macho alfa padrão ocidental.”

No ano em que foi lançado, “The Witcher 3” levou os prêmios de jogo do ano e melhor RPG nas Game Awards, nos Estados Unidos, a mais importante e mais pop premiação de jogos.

É difícil dizer por que exatamente fez tanto sucesso. Em termos de jogabilidade, é um jogo de ação em mapa aberto de qualidade inegável, mas sem grandes inovações. O que parece ser o diferencial do game é a história e sua direção de arte. Inspirado pelo folclore eslavo, o jogo traz criaturas e cenários não tão comuns na cultura pop ocidental.

O jogo acabou virando motivo de orgulho nacional. Em 2011, o então primeiro-ministro polonês Donald Tusk presenteou o presidente americano Barack Obama, que visitava o país eslavo, com uma cópia de “The Witcher 2”.

Há seis anos, quando voltou ao país, Obama disse “não sou muito bom em videogames, mas me disseram que este é um grande exemplo do lugar da Polônia na nova economia global”.

Já “Cyberpunk 2077” chega envolto em muita ansiedade do público e pressão do mercado, com a difícil missão de continuar o legado de “Witcher” e confirmar o país como potência dos games. O jogo, que foi adiado tantas vezes que virou até meme, tem previsão de sair no dia 10 de dezembro.

Vanessa Zican Feng for Tank Magazine with Jay Wright

Photographer: Vanessa Zican Feng. Cgi Art: Andy Tai. Fashion Stylist: Jahulie Elizalde. Hair Stylist: Erol Karadag. Makeup Artist: Christyna Kay. Casting: Sheri Chiu. Model. Jay Wright atNew York Model Management.

Tori Praver | Resort 2020 | Full Show

Tori Praver | Resort 2020 | Full Fashion Show in High Definition. (Widescreen – Exclusive Video/1080p – NU WAVE/Miami Swim Week)

Martin Felix Kaczmarski – High Rise/Stella Catwalk/Marina Club/Sky Lounge/Sun Deck

Credit: Worldeye.com

ONU: algoritmos racistas aumentam discriminação racial por serviços de segurança

Relatório de comitê formado por 18 analistas recomenda que países regulamentem trabalho de empresas de segurança que usam inteligência artificial para evitar perpetuação de preconceitos contra mulheres, negros e grupos étnicos
O GLOBO com agências internacionais

Relatório do Comitê para Eliminação da Discriminação Racial da ONU afirma que uso de inteligência artificial por seus serviços de segurança, especialmente os algoritmos utilizados para reconhecimento facial ou controle policial de fronteiras, reforçam o racismo estrutual. Na foto, manifestação em Brasília a favor da democracia e contra o racismo (07/06/2020) Foto: REUTERS/Adriano Machado

NEW  YORK. Os países devem assegurar que o uso de inteligência artificial por seus serviços de segurança, especialmente os algoritmos utilizados para reconhecimento facial ou controle policial de fronteiras, não reforcem preconceitos estruturais. A afirmação foi feita pela Organização das Nações Unidas (ONU), após o lançamento de um relatório de seu Comitê para Eliminação da Discriminação Racial.

— Existe um grande risco de que (a inteligência artificial) reforce o preconceito e, portanto, agrave ou possibilite práticas discriminatórias — alertou Verene Shepherd, especialista em direitos humanos, em entrevista à agência de notícias AFP. Jamaicana, ela é historiadora e liderou a equipe de 18 analistas independentes que redigiu o documento em que fazem recomendações aos 182 países que ratificaram im tratado internacional proibindo a discriminação racial.

O relatório descreve a preocupação da ONU com a perpetuação do racismo estrutural pelos algoritmos, além de propor maneiras de lidar com o problema. Segundo o documento, sistemas de vigilância que usam inteligência artificial e supostamente apoiam a prevenção de crimes foram implementados pela primeira vez nos Estados Unidos em meados da década de 2000, mas reforçam preconceitos contra comunidades específicas, como mulheres, negros, hispânicos e muçulmanos.

Além disso, o comitê afirma que os algoritmos são responsáveis por um “bombardeio de publicidade preconceituosa” que os usuários de ferramentas de busca ou de redes sociais recebem.

— Os dados históricos sobre prisões em um bairro determinado (que alimentam a inteligência artificial) podem refletir muito bem as práticas policiais preconceituosas e, consequentemente, reproduzi-las. Esses dados aumentam o risco de um excesso de presença policial que poderia levar a realizar mais prisões e, desse modo, criar um ciclo vicioso. Dados incorretos provocam maus resultados — alerta Shepherd.

Em seu relatório, o comitê demonstra preocupação pelo uso generalizado do reconhecimento facial. Estudos já demonstraram que esses dados têm dificuldades para reconhecer rostos de pele escura ou de mulheres.

— Nós ouvimos sobre empresas que usam esses algoritmo para discriminar com base na cor da pele. Ativistas reclamam sobre o uso cada vez mais difundido de inteligência artifical, reconhecimento facial e outras tecnologias. É muito usado nos EUA, onde já ouvimos reclamações das comunidades negras, e também na União Europeia. Na América Latina, cidadão negros e povos indígenas dizem o mesmo — afirmou Shepherd à agência de notícias Reuters, citando Brasil e Colômbia como dois países que discriminam seus cidadãos usando esse tipo de tecnologia. — Esses são lugares os casos prevalecem mais, ouvimos muitos casos.

O comitê pede aos países que regulamentem as empresas que trabalham com esse tipo de tecnologia para garantir que a legislação internacional sobre direitos humanos seja respeitada. Entre as recomendações está a necessidade de transparência na concepção e na aplicação desses direitos. O comitê também reforça que o racismo não foi iniciado por essas tecnologias e que movimentos como o Black Lives Matter e campanhas em defesa de grupos vulneráveis reforçam a necessidade dessas recomendações.

Bec Parsons for Vogue Australia with Katie Holmes

Photography: Bec Parsons at Artist Group. Fashion Stylist: Jillian Davison. Hair Stylist: Michele McQuillan. Makeup Artist: Linda Jefferyes. Art Direction: Cynthia Swanson. Manicure: Jocelyn Petroni. Set Design: Joseph Gardner. Actress: Katie Holmes.

‘Alta fidelidade’: série mostra boa música e história de coração partido

‘Alta fidelidade’, a série (Foto: Reprodução)

Sucesso em 2000, o filme “Alta fidelidade” foi estrelado por John Cusak. O ator vivia Rob Gordon, dono de uma loja de discos. Sua vida amorosa — ou melhor, seus fracassos amorosos — se misturava a uma trilha deliciosa. O romance era pretexto para a música e vice-versa, numa potencialização mútua muito feliz. O longa deu o Globo de Ouro ao seu protagonista e virou um clássico lembrado até hoje. Agora, a série derivada do cinema (que, por sua vez, se inspirou num best-seller de Nick Hornby, dos anos 1990) está no ar no Starzplay e merece toda a sua atenção.

É curioso constatar os efeitos dos ventos da atualização no que se vê na TV. Para começar, nada de um homem branco no papel principal. Ele agora é de uma mulher. A personagem, Rob, coube a Zoë Kravitz. Aqui vale uma observação: a mãe dela, Lisa Bonet, interpretou uma das namoradas de Cusak no filme. Esse parentesco é bem simbólico: a série não abandona o passado e, com isso, contempla o público nostálgico. Mas também adere ao espírito do tempo. Faz isso escapando das fórmulas, com emoção. Isso se deve, em grande medida, ao trabalho de Zoë, uma atriz muito interessante.

Quando a trama começa, Rob está sendo dispensada pelo namorado, Russel (Kingsley Ben-Adir). É uma situação recorrente na vida dela. Arrasada, decide passar em revista todas as suas relações para entender essa repetição. Faz uma lista de todos os que lhe deram um pé na bunda, desde os tempos de escola. Sua intenção é empreender uma espécie de “jornada de cura”. Assim, ao longo de dez capítulos, somos levados a esse passeio de reencontros com os ex-namorados e uma ex-namorada dela. Paralelamente, acompanhamos as suas tentativas de se relacionar com desconhecidos.

A loja de discos da literatura era em Londres. No cinema, em Chicago. Aqui, ela fica no Brooklyn. Cherise (Da’Vine Joy Randolph) e Simon (David H. Holmes) são seus colegas de trabalho. A música invade tudo. Num dado momento, um freguês revista as prateleiras. De um canto, ele tira uma preciosidade e exclama: “Os Mutantes!”. Elogia muito o disco brasileiro para encerrar, falando maravilhas também de Caetano Veloso. É exatamente assim que o espectador se sente ao assistir à série: achando uma pérola numa pilha escondida.

São episódios de menos de meia hora, fáceis de devorar. “Alta fidelidade” é uma ode à cultura pop. Mais ainda agora, passadas duas décadas, com os discos de vinil e os CDs transformados em relíquias de colecionador. Este mês, o Hulu anunciou que não fará outra temporada. Nas redes, todo mundo lamentou. É como acontece com as melhores bandas, quando terminam no auge: deixará saudades. [PATRÍCIA KOGUT]

Oito dicas para ‘viajar’ para Paris sem sair de casa

Assistir a filmes, aprender algumas receitas e até se arrumar à moda francesa podem ajudar a curtir a Cidade Luz sem precisar sair do isolamento
Stephanie Rosenbloom / 2020 / The New York Times

Uma típica padaria em Paris: se a pandemia não te permite visitar a capital francesa, por que não aprender a fazer pão em casa? Foto: Dmitry Kostyukov / The New York Times

Paris é uma fantasia coletiva, dos livreiros ao longo do Rio Sena aos telhados cinzentos de zinco de seus prédios de pedra creme. Há séculos, é referência na questão da l’art de vivre, ou a arte de viver, influenciando a moda, a filosofia, a cultura, a arte e a gastronomia do mundo inteiro. Hoje em dia, as lojas estilo pop-up e as casas de brunch descoladas são tão intrínsecas à capital como as lâmpadas de rua e a arquitetura gótica. Mas o romance da cidade é atemporal.

Quando vou para lá, gosto de ser uma flâneur, caminhante sem destino zanzando pelas ruelas medievais do Marais, parando para ouvir uma banda de jazz, entrando no Musée Carnavalet, fazendo compras em SoPi (South Pigalle), dando uma chegada ao Éric Kayser para comer croissants, sentando-me ao sol em uma das cadeiras de metal verdes dos Jardins de Luxemburgo. A noite talvez traga um balé no Palais Garnier, ou uma mesa de bistrô na calçada para observar o movimento.

Atualmente, meu apartamento faz as vezes do bistrô, da butique e da boulangerie; no entanto, apesar disso, não deixa de ter certo ar de romance. Há inúmeras maneiras de levar Paris para casa; basta um pouco de criatividade. E talvez um copo de champanhe

As margens vazias do Rio Sena, durante a fase de lockdown de Paris, em abril de 2020 Foto: Dmitry Kostyukov / The New York Times
As margens vazias do Rio Sena, durante a fase de lockdown de Paris, em abril de 2020 Foto: Dmitry Kostyukov / The New York Times

1 – Deixe sua cozinha cheirosa feito uma boulangerie

Éric Kayser, o padeiro artesão que inaugurou sua primeira loja em Paris, ensina como fazer os clássicos pães franceses, incluindo “la baguette”, no animado Maison Kayser Academy, seu canal no YouTube. Quer encarar uma refeição completa? Os episódios da série de Julia Child na TV, incluindo programas com Jacques Pepin, estão no PBS on-line (mas você também vai encontrá-la no YouTube). E de sobremesa? Dorie Greenspan, autora de livros de receita e colunista do “The New York Times”, diz que na França “sobremesa pode ser queijo, fruta ou talvez o gâteau encorpado que quase todo francês sabe fazer: o bolo de iogurte. Faço com frequência, sempre pensando em Paris e nos meus amigos de lá”.

2 – Transforme seu sofá em um camarote de balé

Apague as luzes e se acomode no sofá como se estivesse em um dos camarotes do Palais Garnier para ver clipes de balé e óperas no canal da Opéra National de Paris no YouTube. Quando precisar de um intervalo, faça como as plateias de lá e se sirva um copo de champanhe.

3 – Maratonando museus no laptop

Aprecie sem pressa as obras-primas e os monumentos por meio de visitas virtuais. Graças a elas, é possível ver os detalhes as pinturas de Renoir e van Gogh no Musée d’Orsay, usar o zoom para perceber as pinceladas marcantes de Monet para os nenúfares no Musée de l’Orangerie, descobrir máscaras de lugares como a África Central e Papua-Nova Guiné no Musée du Quai Branly – Jacques Chirac, explorar a Sacré-Coeur e se maravilhar com as vistas vertiginosas da Torre Eiffel.

O Musée d’Orsay, um dos principais equipamentos culturais de Paris, visto a partir do Sena Foto: Dmitry Kostyukov / The New York Times
O Musée d’Orsay, um dos principais equipamentos culturais de Paris, visto a partir do Sena Foto: Dmitry Kostyukov / The New York Times

4 – Encha a casa com os sons do jazz francês

Comece com a lenda da guitarra Django Reinhardt, fundador do Quintette du Hot Club de France, de Paris, e sua “Nuages”, em tons de blues. Beberique uma xícara de café enquanto Eartha Kitt lhe  diz “C’est Si Bon” (não deixe de engatar na sequência a versão descontraída de Dean Martin para a mesma canção). E desça do salto (ou tire as pantufas felpudas, dependendo do caso) enquanto Nat King Cole seduz com a versão francesa de “L-O-V-E”.

5- Amarre o cachecol/echarpe como um parisiense da gema

A elegância parisiense pode estar, por que não, entre seus casacos, dentro do armário.

— Você pode fazer o que for; só não vale querer imitar “Emily em Paris”, com aquela mistura maluca de chapéus, botas e jaqueta pink —  alerta Vanessa Friedman, crítica de moda do “The New York Times”, referindo-se à série da Netflix. — Melhor ir lá para trás, tipo Jean Seberg em “Acossado”, de blusa listrada estilo marinheiro e a calça capri sequinha. Para ter jeitão francês, o visual não pode parecer muito forçado; por outro lado, você não pode ser desleixada. A caída daquele cachecol à volta do pescoço requer capricho; o trench coat simplesmente se molda aos ombros. A palavra de ordem aqui é insouciance.

Aprenda a dar nó no cachecol/echarpe como se tivesse nascido na capital francesa com o vídeo indispensável da “Cosmopolitan” francesa. Obviamente, a Hermès também dá dicas.

6 – Redecore no estilo parisiense

Preparado(a) para dar uma repaginada na casa para o outono? Inspire-se nas ideias das contas da “Elle Decoration France”, “Marie Claire Maison” e “Côté Maison” no Instagram, ou mesmo em hotéis butique como o Le Narcisse Blanc Hotel & Spa. A “Elle Decor” tem uma seção de “Regras de decoração francesa para levar para a vida”, na qual o decorador parisiense Jean-Louis Deniot explica: “A ideia é ser antidecoração, bem natural, como se o dono da casa tivesse feito tudo sozinho – o que, obviamente, é muito francês.”

A livraria da Galerie Vivienne, em fotografia tirada em maio de 2020, ainda na fase aguda da primeira onda da epidemia de Covid-19 em Paris Foto: Andrea Mantovani / The New York Times
A livraria da Galerie Vivienne, em fotografia tirada em maio de 2020, ainda na fase aguda da primeira onda da epidemia de Covid-19 em Paris Foto: Andrea Mantovani / The New York Times

7 – Enrosque-se com um escritor francês

Baixe os romances clássicos de Victor Hugo, Émile Zola, George Sand e Honoré de Balzac, gratuitamente. Se ainda não a conhece, descubra o trabalho de uma das escritoras mais respeitadas da França, Annie Ernaux. Perambule por Paris com Edmund White em “O flâneur” ou mergulhe no submundo sombrio da cidade com Luc Sante e seu “The Other Paris”. Vale também fugir para outro mundo como os franceses, com um gibi ou romance gráfico – uma boa pedida é a longeva série Asterix, que conta a história de resistência dos gauleses à ocupação romana, com nova editora nos EUA e traduções adaptadas.

8 – Seja um ‘flâneur’

Sua calçada não o leva ao Sena? Não tem problema. Ser um flâneur não é uma questão de estar em Paris, mas sim de estar no lugar em que você se encontra – usando os sentidos para absorver os sons, os cheiros e as cores à sua volta. Portanto, ajeite o cachecol e saia para dar uma volta socialmente distante.

Na Casa Branca, Biden deve manter ofensiva no setor de tecnologia

Ao contrário de Obama, que deu vida fácil às gigantes da área, novo líder vai olhar para antitruste e privacidade
Por Cecilia Kang, David McCabe e Jack Nicas – The New York Times

Biden terá de enfrentar resistências e lobby

A indústria da tecnologia teve vida fácil na época do presidente Barack Obama. As autoridades reguladoras não apresentaram acusações substanciais, os executivos do setor entravam e saíam do quadro de funcionários do governo, e os esforços para o fortalecimento das leis de proteção à privacidade perderam fôlego. Mas está enganado quem acha que esse tempo vai voltar quando o vice de Obama, Joe Biden, chegar à Casa Branca em janeiro.

Durante o governo Trump, republicanos e democratas começaram a colocar o Vale do Silício em sua mira. Espera-se de Biden que coloque os gigantes da tecnologia em arenas como desinformação, privacidade e formação de trustes, demonstrando uma atitude bem diferente das políticas que defendia na época em que era vice-presidente de Obama.“As grandes preocupações da tecnologia da era Obama continuam conosco e não foram resolvidas”, diz Chris Lewis, presidente do grupo de defesa dos direitos do consumidor Public Knowledge. “O gênio saiu da garrafa e as questões públicas que exigem solução estão se acumulando.”

Durante a campanha, Biden raramente falou em detalhes a respeito de suas políticas para a tecnologia. Mas criticou as empresas de redes sociais, como o Facebook, que permitiram nos seus sites a desinformação. Ele também manifestou preocupação com o poder que um grupo de empresas detêm no setor da tecnologia. A expectativa é que ele leve adiante o processo antitruste apresentado contra o Google em outubro e permita que novas denúncias sejam feitas contra FacebookAmazon e Apple. Nenhum caso ou inquérito foi especificamente citado pela campanha, mas um de seus porta-vozes, Matt Hill, disse que Biden adotaria um posicionamento agressivo em relação a essa indústria.

“Muitas gigantes da tecnologia abusaram de seus poderes e enganaram o público americano, ferindo nossa democracia sem arcarem com nenhum tipo de responsabilidade”, disse Hill. “Isso vai acabar.” 

Previsível

Para avançar, Biden terá de superar uma cisão no Partido Democrata quanto à abordagem correta com as empresas de tecnologia. Progressistas como a senadora Elizabeth Warren, de Massachusetts, e o deputado David Cicilline, de Rhode Island, defendem que as gigantes sejam desmembradas. São legisladores que provavelmente defenderão as autoridades reguladoras que seguirem essa linha. Já os moderados do partido se mostram relutantes em desmembrar essas empresas.

A postura também depende do Congresso: sem nenhum dos partidos com maioria expressiva no Senado, será difícil passar novas leis que mudem de forma profunda o setor de tecnologia – o máximo que Biden deve conseguir é apoio para investigar as gigantes. 

Biden também deve enfrentar um forte lobby da indústria – só Amazon, Apple, Facebook e Google gastaram US$ 53,6 milhões em 2019 com a atividade. É mais do que Wall Street e as empresas do setor farmacêutico e energético. No entanto, executivos e lobistas atuantes veem com bons olhos a chegada de Biden, apesar de uma abordagem dura com relação à concorrência desleal. Afinal, é o fim da era imprevisível da presidência de Donald Trump. 

Diretor jurídico da Apple e ex-diretor de assuntos governamentais da fabricante, Bruce Sewell foi claro sobre isso. “No Vale do Silício, os diretores dessas empresas devem pensar, ‘Biden vai pegar pesado conosco, mas, ao menos, teremos de volta um mal que conhecemos bem’.”, afirmou o executivo, que comandou as relações da Apple com Washington entre 2009 e 2017. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL